"O que você sabe sobre esta questão?", disse o Rei para Alice.
"Nada", disse Alice.
"Absolutamente nada?", insistiu o Rei.
"Absolutamente nada", disse Alice.
"Isso é muito importante", disse o Rei... (Lewis Carroll)



segunda-feira, 1 de agosto de 2011

domingo, 24 de julho de 2011

Olhando da janela

Na estação, a despedida parecia doer muito. Nas duas. Não conseguiam se desabraçar nem se desbeijar e seguir o caminho que ia se desencontrar ao último apito do trem.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Eu e ela... ela e eu

Enfim, o reencontro. Depois de um tempo afastadas, cada uma no resguardo do seu próprio universo, o clima frio e a lembrança dos momentos aconchegantes vividos juntas trouxeram de volta a vontade de ir à sua procura. E a busca nem foi assim tão longa. Ao primeiro movimento, lá estava ela, já à minha espera. A noite gelava. A garrafa de Carménère se esvaziando ajudava ainda mais a encher as memórias de outros invernos. Meio que sem esperar, da borda da taça para o meio da cama foram dois ou três passos apenas. Aos poucos, a proximidade da sua superfície pequenina, mas quase em brasa, com meu ventre foi desencadeando uma sensação inigualável, que irradiava para o resto do corpo, como se ao ritimo pulsante dos raios de sol. Um calor de aquecer corpo e alma e incendiar os sonhos. Naquele momento, não conseguia mais imaginar a vida sem ela... a minha bolsa de água quente.


terça-feira, 28 de junho de 2011

O gosto do silêncio

Não gosto de celulares. Ou melhor, não tenho nada contra esses aparelhinhos, mas tenho tudo contra seus usuários inconvenientes. E eles, parece, me perseguem por todos os cantos. É assim no cinema ou no teatro, quando senta ao meu lado aquele chato, ou aquela chata, que fica checando as mensagens urgentíssimas a todo o momento. Quando não atende uma ligação, como já aconteceu várias vezes no Guion, por exemplo. Pessoas multitask... superconectadas, habituadas a fazer tudo ao mesmo tempo, incapazes de ficar paradas, nem em silêncio. Desligadas, carregam seus (maus) hábitos pras mais variadas situações.
 
Hoje fui ver a (micro)exposição do Sebastião Salgado. Além das fotos penduradas na parede, tinha também um ser incoveniente pendurado no celular. Percebi o tal incoveniente quando fui abruptamente retirada do meio da sala de uma foto, onde eu havia entrado, não sei como -- poder da fotografia nos carregar pra dentro da imagem, talvez. O ser incoveniente me trouxe de volta pro mundo fora da imagem porque falava muito alto, como se tivesse um megafone acoplado ao aparelho. Num monólogo em espanhol interminável, combinava algo como se eu e as outras duas pessoas que estavam por ali fôssemos parte da combinação. Pink Floyd... Ele tinha as músicas e as letras e estava levando sabe-se lá pra quem e pra onde. Eu só queria que ele se levasse dali pra bem longe e me deixasse voltar pra dentro da sala do retrato de onde ele havia me tirado. Em tempos de hormõnios desequilibrados, eu mesma teria sugerido deseducamente que ele fosse pro banheiro ou pro raio que o partisse pra, de um modo literalmente privado, continuar a conversa que absolutamente não me interessava.
 
Depois de longos intermináveis 10 ou 15 minutos de blablablá, ligação encerrada. Ufa! Não... Nova ligação, agora falando em português, repetindo toda a combinação feita momentos antes. Mas... e eu com isso??? Só estava ali pra ver as fotos!! Uma boa dose de paciência e tolerância me fez continuar ali esperando, esperando o lugar silenciar. E a criatura incoveniente, falando e andando pra cá e pra lá, se foi... poder de pensamento...

Terra, Sebastião Salgado
E finalmente pude ficar ali, na sala vazia, mas cheia de gente, capturada pelo instante mágico de uma lente. E pude ouvir o que aquelas imagens e aqueles olhares tinham pra me dizer. Em silêncio.

domingo, 6 de março de 2011

Transcender é preciso

Pronto. De volta ao espaço sobrenada sobre tudo onde é possível às ideias se espicharem em palavras além do limite de caracteres de um status atual.
Transcendi! É. Depois de tanto Echoes, peguei emprestado o patinete da Suzica e finalmente... transcendi!!! Fui fazer uma daquelas coisas que é bom fazer em duas ou mais pessoas, dependendo da afinidade entre elas, mas que dá muiiiiiiito prazer fazer sozinha também. Coisa do tipo "mulher selvagem que nos habita poder ir para onde quiser, dentro e fora de si mesma...e poder sentir seu conteúdo mais sutil".
Fui e fiquei desquadrilhada e com as ideias em cambalhotas. Pois fui pra onde queria, pra fora de mim, o que logo me levou pra dentro de novo, e pra fora e pra dentro. E aconteceu hoje de manhã, logo depois de acordar. Céu azul, lindo e inspirador. Um bom dia pra soltar a "mulher selvagem" numa boa... 
Caminhada. Alguém pensou em alguma outra coisa? 12 km ida e volta até o cantinho do Iberê. Acho que eu precisava de uma reconciliação com a beira do Guaíba já fazia tempo, e foi só as pernas começarem a andar ali no calçadão descalço da Beira Rio que o azul lindo refletido na água cuidou de achar um "lugar de cozimento" pra "criatividade errante".
As pernas andavam, e as ideias se misturavam em cambalhotas em meio a um sentimento não sei se de tristeza ou de indignação, talvez os dois, com o brutal desarvoramento que fui vendo pelo caminho. Levei um susto quando avistei o museu do Iberê de um lugar que, antes, não era possível avistá-lo. Por conta da instalação da tal tubulação, tudo o que está no caminho vem sendo arrancado. E esse tudo inclui árvores pequenas e grandes, que já moravam ali talvez há bem mais tempo que nós. E a tubulação está lá parada logo após o Parque do Inter, indicando que o desarvoramento tem tudo pra continuar e atingir as espécies talvez até centenárias ali naquele local um pouco antes de chegar ao museu.
O sol já ia alto e deu vontade de sentar na grama embaixo de uma sombra. Coisa mais difícil! Lembrei de uma amiga, ex-parceira de caminhada até aquelas bandas, que costumava dizer "o belo de perto perde todo o encanto". É vero. Quando pensei ter achado o lugar ideal pra sentar e ficar olhando o lago (ou rio, se preferirem), era simplesmente impossível ficar ali por conta do mau cheiro provocado pelos restos de galinhas ou de outros animais mortos e em decomposição, usados em rituais sabe-se-lá-do-que.
Mais adiante, num canto com banco, deu pra sentar embaixo de uma árvore sem restos galináceos e esquecer um pouco os arredores. E foi aí que a maçã caiu na minha cabeça. Não descobri nem reinventei outra lei da gravidade, mas tive um insight muito legal. Percebi que um dos elementos em comum que aproxima meus três lugares preferidos no mundo -- Londres, Manchester e Porto Alegre, exatamente nesta ordem -- é a água. Embora em maior ou menor quantidade, a água é um elemento comum à paisagem urbana desses três lugares. Ë um elemento que não só aproxima, mas também distancia, e muito, essas três cidades em função do modo como é tratada.
Londres, como todo mundo sabe, é uma das capitais mais visitadas do mundo e, quando se deu conta disso, um tempão atrás, tratou logo de se tornar mais atraente ainda aos seus visitantes. E isso necessariamente passou pela água. É só a gente ver o Tâmisa hoje pra ter uma ideia do que foi feito. Não só seu principal rio mereceu atenção; quem já passeou de barco pelos labirintos de canais que levam a gente, por exemplo, do psicodelismo de Camden Town quase direto pros hubble-bubbles do oriente-médio londrino, sabe bem à que me refiro.
Manchester é outro caso digno de mencionar. Nem é uma cidade tão turística assim, mas a revitalização que teve início lá, em meados dos anos 1970 ou início dos 1980, também passou pela água. Canais, antes completamente poluídos, viraram locais de turismo, e a gente pode fazer longas caminhadas a pé ao longo deles. E tudo arrumadinho, até com flores.
Quando me lembro disso, fico imaginando o porquê aqui no Portinho ainda não temos pequenas embarcações indo do Cais do Porto, passando pela Usina, até o cantinho do Iberê e de lá seguindo pra zona Zul. Fico imaginando que tipo de pessoas são essas sentadas em secretarias do gênero que, até agora, só conseguiram imaginar coisas que resultaram, por exemplo, naquelas barracas plastificadas colocadas ali nos arredores do Gasômetro. Sem falar naquele "puxadinho" flutuante medonho colocado sobre a água. É de uma pobreza estética de chorar. Tá, não precisamos ter vidros fumê e passarelas rolantes, nada disso... Mas, vamo combiná! A beleza do Guaíba não combina com essa pobreza de imaginação.
Adoro Porto Alegre e tô aqui por livre escolha, não  por necessidade ou obrigação. E acredito que seja esse meu olhar de turista-residente que me entristece quando ando por aí. Como hoje de manhã. É pena que esse verdadeiro presente da natureza ainda não tenha sido devidamente desembrulhado.
Percebi hoje com a clareza do dia azul que é preciso transcender pra aproveitar a beleza que o Guaíba proporciona. E transcender, nesse sentido, parece significar manter o foco na água e ignorar a sujeira e os maus tratos na margem. Ir limpando o caminho do olhar pra ficar apenas com o resultado que esse olhar proporciona, de tranquilidade, paz no coração e bem-estar.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Barbárie desarmada

O controle informatizado de tudo e todos, do celular ao cartão de crédito, terá o contraponto revolucionário dos desistentes da tecnologia, neo-hippies que não mais se juntarão em comunidade para cultuar uma falsa natureza, mas, lobos solitários, preguiçosos e tranquilos, sem telefones nem computadores, cultuarão tudo que é devagar e ali na esquina. (Cristóvão Tezza, na Folha, alguns anos atrás)

Encontrei esse texto recortado do jornal no meio de um livro que há tempos não abria. Era parte de uma matéria especial, que reunia figuras de várias áreas de atuação e/ou interesse falando sobre novas tendências e rumos da tal civilização contemporânea. Lembro que me identifiquei de imediato e pensei "puxa, encontrei minha tribo!". Mas, lendo de novo agora, me dei conta de que não dá pra ter uma tribo de lobos solitários... Ainda assim, se alguém souber o endereço, me avisa com um sinal de fumaça.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

O piado das corujas

Abriu os olhos naquela manhã, e tudo o que via eram as paredes rodando rodando rodando lenta e suavemente. Num piscar de olhos voou pro banheiro e foi sentindo seu corpo pesar cada vez mais sobre o vaso que parecia flutuar. O mundo rodante foi se apagando à sua volta, e seu corpo tombou pro lado feito uma árvore desequilibrada incapaz de resistir a uma ventania. Perdera os sentidos pra encontrar o sentido no chão gelado contra a sua face e na língua que aos poucos descobria caminhos através de um dente quebrado. Mas que sentido? Nada fazia sentido naquele mundo desgovernado. Queria se levantar, mas o corpo não obedecia e apenas se ergueu alguns milímetros pra se abrigar sobre o tapete. Ali, naquele momento que parecia uma eternidade, só queria que as corujas que ajudara a extinguir no boteco da noite anterior parassem de piar dentro da sua cabeça pra que, em silêncio, pudesse voltar a dormir e a sonhar com a dama de vermelho.

domingo, 7 de novembro de 2010

Somos

dois pares de pés desencontrados caminhando errantes sobre a areia macia e prestes a sair da paisagem pra quem sabe um dia se encontrar numa outra fotografia.

domingo, 24 de outubro de 2010

Porque hoje não é sábado

não tem construção
porque hoje não é sábado
ninguém morreu na contramão
porque hoje não é sábado
kibon
não tem quermesse
porque hoje não é sábado
nem bolinho de aipim
porque hoje não é sábado
ai de mim
não tem casamento
porque hoje não é sábado
nem espetáculo tem não
porque hoje não é sábado
palhaço não ri
nem esperanças se renovam
porque hoje não é sábado
não tem perspectiva de domingo
porque hoje não é sábado
ninguém dorme até mais tarde
porque hoje não é sábado
há uma sensação angustiante
porque crianças passam fome
ainda que hoje fosse
sábado

domingo, 17 de outubro de 2010

Coração vagamundo

Quando pensa em você esse coração embarca no teu olhar distante e (di)vaga pelo lindo labirinto do teu sorriso não vendo a hora de se albergar nas tuas mãos ausentes.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

A cura do mundo

Um dia você acorda todo feliz, vai pro chuveiro e, de repente, vê seu box se transformando numa banheira porque a água inexplicavelmente se recusa a descer pelo ralo. Gravidade ao contrário, você pensa. Termina o banho apressado na ponta dos pés pra não afogar os joelhos e sai correndo dali. De volta ao quarto, dá de cara com os restos da festança da noite anterior. Da festança dos cupins que inexplicavelmente resolveram fazer da sua madeira tratada o prato principal do seu jantar enquanto escavam túneis intermináveis, intermináveis até que o armário acabe. Marceneiro safado, você pensa. E dá uma vontade de sair correndo dali também e ir pra rua, ver o dia de perto, tomar sol e fugir dessas coisas inexplicáveis. Mas o sol também inexplicavelmente não saiu naquela manhã que nem era de segunda-feira. Melhor voltar logo pra cama e ficar ali, escondido, até que o mundo se cure, ou se explique.

sábado, 4 de setembro de 2010

Revisitando Carlos

Quando ele nasceu, um negrinho que pastoreava por ali olhou pra ele e disse: "Vai, guri, ser gaúcho na vida!". E ele foi. Cresceu e se criou lá nos campos de cima da serra, onde o bom Jesus colore o céu e também a terra. Aprendeu a arte do laço e o compasso da gaita alegrava suas noites de fogo de chão na campanha. Um dia enamorou-se da prenda Ana que amava João que pra encurtar a quadrilha não amava Teresa mas amava Lili que amava Ana também, mas não contava pra ninguém. Desiludido trocou a gaita pela guitarra elétrica e foi se embora pra capital tocar numa garagem hermética. E lá conheceu Carolina de outra história com quem dividia suas noites de porre até um dia encontrar seu bom fim. Logo ali rumo ao ocidente tinha uma sinaleira aberta no meio do caminho. Só ele não viu.

sábado, 28 de agosto de 2010

Logo(ex)cêntrica

em (des)cons
                    c
                            o
                         n
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                      t
                                             r
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                              ç
                                                                          ã
                                                                                                              
                                                                                                                    
                                                                                                                          o
           

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Depois que ela saiu

Depois que ela saiu, seu desejo era voar janela abaixo. Não o fez. Afinal, estava só no primeiro andar.

sábado, 14 de agosto de 2010

Spiderman is having me for dinner tonight...

Tudo vira sombra em dias de sorriso partido. E as sombras sobram por todo lado, nas ruas apagadas de sol, nos corredores quadriculados, nas janelas esfumaçadas, nas paredes e nos tetos meio acesos. Algumas dançam alegres na parede acompanhando o pulsar da chama de uma vela ao ritmo de uma música tocada ou imaginada na cabeça de quem as segue. Outras tentam suavemente se desprender do teto querendo devorar a cabeça de quem as teme. E só as famílias de pequenos insetos que habitam os cantos mais altos da parede assistem a tudo antes de a meia-luz se apagar. Vigilantes, espiam a dança embolorada do tecer da teia que prenuncia o banquete.

domingo, 8 de agosto de 2010

Uma paulista no Portinho

É um enorme privilégio ser turista no lugar que se escolhe pra viver. Olhos de turista são mais tolerantes e generosos com o que veem e, acima de tudo, jamais perdem o elemento curiosidade, graças ao qual se está sempre descobrindo novidades mesmo no antigo. Cerca de um ano e alguns domingos atrás esses olhos saíram pra passear num dia ensolarado, bem diferente do de hoje, e o resultado ficou registrado num e-mail compartilhado com amigos daqui e de fora. O texto vai reproduzido na íntegra a seguir e é de novo dedicado aos meus caros e minhas caras imprescindíveis que ajudam a dar um sentido familiar ao estrangeiro.
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Nas entrelinhas do trabalho que não termina me dei conta de que este mês completo 8 anos de Portinho. Passou voando. Parece que foi ontem ainda que andava perambulando com dor no pescoço de tanto olhar pros altos da Cidade Baixa à procura do que seria minha primeira "casa própria". Primeiro meio-inverno, depois flores coloridas, forno alegre sem férias, folhas caídas, e tudo de novo, várias vezes. E, apesar dos pesares, o encanto ainda não se quebrou. Não só pelas águas do Guaíba, mas também pela insólita semelhança com a atmosphere mancuniana, principalmente nos dias nublados, de frio, chuva ou neblina intensa, ou tudo junto, quando o mundo fica todo preto-e-branco e soa melancólico e faz a gente imaginar que em algum lugar there is a light that never goes out...

E domingo foi um dia atípico de Manchester em pleno Portinho. Abri meus olhos de turista e saí por aí com uma amiga, num roteiro tipo gastrocultural. Primeiro, uma passada rápida no brique pra comprar um babador pra um amigo que acabou de virar avô. Mais do mesmo: estátua viva, homem-que-salta-no-meio-das-facas-incendiadas, banda folk country, indiozinhos que cantam sem casa nem cultura próprias, além das cuias saídas pra tomar sol. Tédio igual, menos algumas pessoas, turistas-não-residentes.

E aí, inesperadamente, o diferente. Na procura de um lugar pra almoçar que não tivesse tão abarrotado, os olhos de turista avistaram do outro lado da rua uma casinha com o nome de Santa Felicidade. Oooops! Um pedacinho de Curitiba em pleno Bonfim? Não. Só uma feliz coincidência de nomes. Uma graça de lugar, com uns donos bem legais. Comida ótima (risoto de salmão foi a escolha), bom vinho e bom preço. Onde? Logo ali no início (ou fim, dependendo da perspectiva) da Santo Antonio.

Depois dessa santa felicidade, centro cruzado a pé, no rastro do sol, rumo ao Gasômetro. Último dia de "o riso e a melancolia". Mais diferente. Mais riso que melancolia, humor meio negro, como no cartaz ao lado, e muitos ternos olhares sobre quatro patas no video de William Wegman com seus weimaraners.
Frio, céu azul, comida, diversão e arte. Um dia perfeito no portinho alegre que deixo aqui registrado pros ausentes e presentes, partidos e voltados, importados e deportados.

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Agora, já com pouco mais de 9 anos de Portinho, depois de um verão insuportável e em meio a um inverno digno da mudança pra cá, o olhar segue encantado e presenteado com novas descobertas. Hoje, num domingo de cidade cinzenta e recolhida, antes de me entorpercer bebendo vinho, melhor foi encarar uma sessão tripla de cinema, no Cine Bancários. Última oportunidade pra ver a mostra Vídeo Índio Brasil edição 2010. Imperdível, mas que muitos não-turistas perderam.

Os "indiozinhos" do domingo acima saíram das ruas e foram parar nas telas pra contar como os brancos "os cercaram em chiqueiros" [tomando emprestado a fala envergonhada de um deles] e nos chocar com sua "crueldade" ao nos mostrar como se abate um sabiá de pescoço vermelho com um tiro de estilingue e depois se come o bicho assado à moda antiga. Cruéis eles? Os brancos também comem bicho e não são menos cruéis só porque podem pagar por isso.

No intervalo entre uma sessão quase exclusiva e outra, o presente extra foi conhecer os bastidores do cinema, a sala de projeção e o funcionamento de um projetor de filmes em 35mm, além de aprender como se emenda uma tira de filme na outra. Raridade hoje em dia. Raridade também o Fernando, o operador, que adora o que faz, bem a la Alfredo & Totó.

Baita viagem! Muito bom ser turista sem sair de casa...

Teorizações sobre tudo I - Amores e sapatos

Amores são tão difíceis de encontrar quanto sapatos novos. Quando aparece um par legal, já tá nos pés de outra pessoa.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Olhos

Como dizia Nenhum de Nós,
"havia algo de insano naqueles olhos"
olhos castanhos
olhos azuis
olhos vermelhos
olhos insanos

mas ninguém de nós tinha mais 17 anos
nem baixava a cabeça pra tudo
e as coisas aconteciam sem nenhuma explicação

mas havia algo de medo naqueles olhos
olhos castanhos
olhos azuis
olhos vermelhos
olhos insanos
a nos entregar